quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

De Letra

DE LETRA N 184 (QUARTA-FEIRA, 24-12-08)
MIGUEL SANTIAGO
OLÁ, caros leitores semanais! Como há milhares de anos, mais uma vez, é Natal, festa maior da cristandade. O mundo pára para comemorar o nascimento do Menino Jesus, filho do carpinteiro José e da Virgem Maria. Pobre e humilde, nasceu em uma manjedoura, cercado de animais. A humildade que pregou durante seus 33 anos de vida, de nada valeu para a maioria, que continua comemorando o evento com pompa e ostentação, enquanto milhares seguem abaixo da linha da pobreza, sem motivo e condição de comemorar nada. Assim caminha a espécie humana, para quem, o importante é ter e, não, ser...
DE QUANDO em vez, alguém me pergunta, por quê eu sou tão calado e triste no Natal. Acho que tenho motivos de sobra para ser assim, diante das enormes diferenças sociais. Meu trauma natalino começou no já distante início da década de 50, na acolhedora Visconde do Rio Branco. Criança de sete anos de idade, como todas as crianças, escrevi minha cartinha ao Papai Noel, colocando-a na janela de meu quarto, dentro de um surrado sapato, na esperança de que o Bom Velhinho a encontrasse e deixasse o presente que pedi, uma bola de futebol...
ACORDEI várias vezes de madrugada para conferir a árvore de Natal. Nada! De manhã fomos para a rua, eu, meus 11 irmãos e meus genitores. Meu pai, que era magistrado, não recebia seus vencimentos há sete meses. Sem dinheiro, como presentear uma prole tão grande? Ele nos reuniu e, imagino, com o coração sangrando, contou-nos que o trenó de Papai Noel havia se atolado na barrenta estrada que ligava Ubá a Visconde do Rio Branco, vez que chovia muito, como, aliás, é normal nessa época do ano...
SEM presentes, a frustração tomou conta dos 12 irmãos. De repente, nada mais do que de repente, percebi que todos os meus amigos brincavam com seus presentes, bolas e carrinhos, principalmente. Nada entendi. Só compreendi, muitos anos após, já adulto, que Natal é uma festa meramente comercial. Quem pode, pode, comemora, quem não pode, fica olhando, triste, na esperança de que Papai Noel, no próximo Natal, desça pela chaminé invisível do nosso coração, trazendo presentes de verdade, como amor, fraternidade e compreensão, que, naturalmente, não são vendidos em lojas...
ENTRETANTO, gostaria de deixar bem claro que não sou contra quem gosta e comemora. Mas, para mim, o Natal dos homens é um dia como outro qualquer. Nesta semana, já participei de duas festas de confraternização (a tradicional leitoa do mano Domingos Afonso no bar do Dalmir e a organizada pelos amigos Jésus Brito e Délio Gandra no restaurante “Sub Zero”) e devo participar de outra hoje, na casa de meu irmão mais velho, Sérgio, tomando o velho “guaraná”, jogando conversa fora e vendo a festa rolar do lado, deixando a “vida me levar”, como cantaria Zeca Pagodinho. E, lembrando o genial Raul Seixas, ouvindo baixinho “de quando em vez você me pergunta, por quê eu sou tão calado?”. E triste. É o Natal...
ATÉ a próxima.

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